domingo, 7 de outubro de 2007

Espera prejudica rastreio ao cancro colo-rectal

A espera prolongada para obter a confirmação de um diagnóstico é uma das principais falhas apontadas pelos médicos do que diz respeito ao rastreio do cancro colo-rectal que, em Portugal, dizem, apresenta várias lacunas. A escassez de “centros convencionados” agrava o combate ao problema, salienta o presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos, Jorge Espírito Santo.

Em Lisboa, nas clínicas convencionadas pelo Estado, um doente pode esperar até um mês e meio para fazer uma colonoscopia, avança a edição de Domingo do Diário de Notícias. Depois, ao chegar ao hospital a espera pode variar entre dois a três meses até que o doente tenha acesso a uma consulta de gastrenterologia, referiu Pilar Vicente, médica do Hospital de São José, em declarações àquele jornal.

Um compasso de espera que, em muitos casos, pode ser decisivo para detectar a doença atempadamente, até porque o cancro colo-rectal é a segunda causa de morte por cancro no mundo ocidental, apesar de ser um dos mais fáceis de prevenir. “Todos os dias morrem nove pessoas devido ao cancro do colo e do recto”, alertou o presidente da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED).

Apesar da colonoscopia poder ser realizada nos hospitais públicos, a maioria dos doentes acaba por fazer o exame em clínicas privadas, podendo recorrer às que têm convenção com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, no entanto, são insuficientes. "O hospital não está a dar resposta, pelo que os doentes recorrem a convencionados", referiu Margarida Damasceno, oncologista do hospital de São João.

Mesmo depois de confirmado o diagnóstico é preciso aguardar a triagem das consultas de gastrenterologia, explica Jorge Espírito Santo que defende a criação de “canais directos entre os centros de saúde e os hospitais”. Entre a marcação da consulta, exames de estadiamento e aspectos da terapêutica, o doente “chega a esperar dois meses”. Tudo isto sem contar com a espera pela cirurgia, que pode atingir os oito meses. Um conjunto de adversidades que levam o responsável a afirmar que “a situação não está boa para o doente oncológico”.

Aos médicos resta esperar que o novo programa de rastreio, preparado para o início do próximo ano, venha melhorar as condições dos doentes oncológicos.

Marta Bilro

Fonte: Diário de Notícias, Diário Digital, Saúde na Internet.

Inibidores de microARN combatem vírus na fase latente
Fazer sair o HIV do seu esconderijo...

Uma equipa de investigadores da Universidade Thomas Jefferson, com sede em Filadélfia, nos Estados Unidos, descobriu um método que permite combater o vírus responsável pela sida na fase latente, quando o HIV se mantém no organismo em estado inactivo, em que os medicamentos anti-retrovirais são incapazes de interferir.

Até agora essa incapacidade de actuar sobre o vírus enquanto ele se encontra em repouso tem sido o maior obstáculo à erradicação da doença. No entanto, os cientistas da Thomas Jefferson acreditam ter encontrado a fórmula para combater mais eficazmente o vírus. A investigação foi divulgada na edição electrónica da revista científica «Nature Medicine», e explica que as células de microARN, pequenas moléculas do genoma que regulam a expressão genética, e que são abundantes nas células TCD4 em repouco, têm papel preponderante na capacidade de persistência do HIV no organismo humano, já que desactivam a replicação do vírus e contribuem para o seu estado de latência. De acordo com os investigadores, esta descoberta poderá abrir uma via para fazer sair o HIV do seu esconderijo e eliminar do organismo a sida, antes mesmo de ela se manifestar.

Carla Teixeira
Fonte: AZ Prensa

REPORTAGEM

Erros de medicação ameaçam segurança no internamento
Quando a Saúde também está doente...


Dar entrada num hospital em busca da cura para uma doença e dias depois deixar as instalações ainda em pior estado é uma realidade relativamente comum em Portugal e no resto do mundo. À luz dos mais recentes dados da Organização Mundial de Saúde e de várias entidades nacionais, a qualidade dos serviços de saúde prestados no nosso país não é animadora. Erros humanos e efeitos adversos da medicação são as faces mais visíveis de um cenário dramático: e quando algo corre mal no atendimento hospitalar, é o doente que paga a factura. Às vezes com a própria vida...
De acordo com o que o farmacia.com.pt conseguiu apurar junto da OMS e das mais diversas forças actuantes no sector da prestação de cuidados de saúde em Portugal, as mais recentes estimativas demonstram que nos países desenvolvidos um em cada 10 doentes é alvo de um qualquer problema assistencial enquanto permanece hospitalizado. Entre as principais razões para que isso aconteça há a ter em conta os erros humanos ou os efeitos secundários adversos da medicação administrada em meio hospitalar. A título de exemplo, a OMS afirma que, "em alguns países, a proporção de injecções que são administradas com seringas ou com agulhas reutilizadas sem as submeter ao processo de esterilização é superior a 70 por cento". A organização refere que essa opção "expõe ao risco de infecções milhões de pessoas" e motiva anualmente 1,3 milhões de mortes em todo o mundo, designadamente devido à transmissão de doenças como as hepatites B e C e a sida.
Em Portugal os dados mais recentes sobre a segurança dos doentes hospitalizados remontam a 2005 e têm, quase todos, a chancela da associação de defesa do consumidor Deco. Naquele ano foram dois os números da revista «Proteste» dedicados à temática dos perigos associados ao internamento - infecções hospitalares e má qualidade da comida servida nas cantinas dos hospitais -, e uma investigação divulgada na edição de Setembro daquele ano na revista «Dinheiro & Direitos» deu a conhecer a existência de problemas como "listas de espera intermináveis, informação escassa aos pacientes e uma prestação de serviços cara e pouco eficiente”. O estudo referia ainda que, "quando os profissionais de saúde falham, as consequências para os utentes podem ser graves”, incluindo a morte, que de acordo com a mesma fonte atinge anualmente milhares de pessoas na rede nacional de hospitais. Depois da comida e do preço dos tratamentos, na edição nº265 da revista «Teste Saúde» era abordada a questão do ambiente hospitalar, com os técnicos da Deco a aferir que “mais de metade dos hospitais visitados no decurso do estudo revelava concentrações de microrganismos acima do limite máximo admitido pela Organização Mundial de Saúde”.

Sete mil mortes anuais
Os mais recentes dados disponibilizados pela Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed) apontam para a ocorrência de sete mil mortes anuais devidas a erros relacionados com a utilização de fármacos em ambiente hospitalar, e de cerca de 20 mil óbitos por ano associados a outros erros médicos. Ainda mais gravosas são as consequências das reacções adversas, que matam 106 mil doentes a cada ano que passa, e que em três quartos dos casos são perfeitamente evitáveis. Diante deste cenário, a Ordem dos Farmacêuticos salientou a necessidade de promover programas de gestão do risco hospitalar, envolvendo os hospitais, as empresas farmacêuticas, as distribuidoras e os profissionais.
Depois de, recentemente, o director-geral de Saúde ter referido que sete por cento dos pacientes internados nos hospitais portugueses contraem infecções devidas a erros médicos, o farmacia.com.pt foi ouvir a opinião de Margarida França, especialista de reconhecido mérito nesta matéria. Administradora hospitalar, vogal do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e membro da Agência Nacional de Investigação, tendo sido também directora-adjunta do Instituto Português da Qualidade em Saúde, a perita aceitou comentar os números, avançando a sua convicção de que a solução estará no desenvolvimento e na implementação de programas mais rigorosos de gestão do risco hospitalar.
Em finais do passado mês de Setembro Margarida França participou numa conferência internacional realizada no Porto, e em que, sob a égide da presidência portuguesa da União Europeia, cerca de 400 académicos, decisores públicos e representantes de sistemas de saúde na UE debateram a «Segurança dos doentes – Investigação na prática», focalizando a discussão na problemática da “promoção e divulgação da acção e da investigação internacionais, o reforço do alargamento de um leque de iniciativas e a proposta, para a prática, de padrões baseados na evidência”.
Tendo em conta que, quando recorre a um qualquer serviço de saúde, o doente pretende curar-se das patologias que o atormentam, e considerando os números avançados na véspera daquele encontro pelo director-geral de Saúde, Francisco George, segundo o qual sete por cento dos doentes internados contraem infecções hospitalares, a especialista enfatizou, em declarações ao farmacia.com.pt, que "há programas de gestão do risco dirigidos especificamente para evitar e corrigir esses erros e incidentes”. Salientando que em meios como os hospitais, em que “há tantas pessoas doentes”, será impossível driblar totalmente os riscos de contágio de determinadas doenças, quer entre os pacientes que se encontram internados, quer mesmo entre os profissionais de saúde, Margarida França frisou que o papel desses programas de gestão de risco passa a ser o de “diminuir o impacto” dos riscos que não podem, de todo, ser evitados".

Carla Teixeira
Fonte: Organização Mundial de Saúde, Infarmed, Ordem dos Médicos, Ordem dos Farmacêuticos, Ordem dos Enfermeiros, contactos telefónicos