quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Lucros da farmacêutica britânica caíram 15 por cento
Genéricos ameaçam resultados da Astra Zeneca


Os lucros da Astra Zeneca sofreram uma quebra de 15 pontos percentuais durante o terceiro trimestre deste ano, segundo anunciou nesta quinta-feira em comunicado a segunda maior companhia farmacêutica com sede no Reino Unido. Na origem do recuo terá estado a concorrência dos medicamentos genéricos.

De acordo com o comunicado difundido pela empresa, entre os meses de Julho e Setembro os resultados da Astra Zeneca evidenciaram um recuo face ao período homólogo de 2006, de 1,1 mil milhões de euros para 929 milhões. Na base destes resultados terão estado o aumento dos custos das aquisições que a empresa está a integrar – com destaque para a Cambridge Antibody Technology e a MedImmune – e o facto de os medicamentos do laboratório com melhores resultados ao nível das vendas enfrentarem actualmente a cada vez mais feroz concorrência das fórmulas genéricas com os mesmos princípios activos. Analistas citados pela agência Bloomberg consideram que a Astra Zeneca está a acusar os efeitos da pressão das companhias produtoras de genéricos, em regra bastante mais baratos do que os medicamentos de topo da companhia: Nexium, Crestor e Toprol XL.

Carla Teixeira
Fonte: Bloomberg, «Diário Económico»
Bastonária pronunciou-se sobre o novo regime jurídico
Rumo à perda da identidade das farmácias


No rescaldo da entrada em vigor do novo regime jurídico das farmácias de oficina, a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos reiterou a sua “total discordância” face à liberalização da propriedade dos estabelecimentos de dispensa de medicamentos, considerando que a reforma não traz benefícios à população nem quaisquer mais-valias ao Estado. Para Irene Silveira o futuro é claro: as farmácias vão perder a sua identidade enquanto espaços de saúde.

Decalcando uma posição que por diversas vezes tinha já assumido, inclusivamente numa entrevista concedida ao farmacia.com.pt ainda na qualidade de candidata a bastonária, Irene Silveira veio novamente a público dar conta da firme oposição da Ordem dos Farmacêuticos a uma das ideias-chave do diploma que entrou em vigor na passada terça-feira, e num comunicado publicado na página electrónica da OF, em www.ordemfarmaceuticos.pt, insistiu na convicção de que “esta medida não traz quaisquer benefícios à população nem mais-valias ao Estado”, constituindo também “uma porta aberta à inevitável e progressiva degradação da qualidade dos serviços farmacêuticos actualmente prestados nas farmácias”.
A bastonária considera que, ao revogar o princípio da indivisibilidade entre direcção técnica e propriedade da farmácia, “um pressuposto que constitui o garante de uma plena independência e responsabilidade do farmacêutico no exercício da profissão”, o Governo pretende “reduzir a dispensa de medicamentos a uma mera actividade económica de retalho”, tratando o fármaco como uma qualquer mercadoria, e como tal susceptível de ser enquadrada segundo mecanismos de livre funcionamento dos mercados. Considerando que a nova medida legislativa “carece de fundamentação científica e técnica”, Irene Silveira prevê que ela possa espoletar o surgimento de situações de “assimetria no acesso a medicamentos, resultante da concentração das farmácias nos centros urbanos com maior densidade populacional, bem como de uma descaracterização e decréscimo na qualidade dos serviços prestados pelos farmacêuticos.
Num futuro próximo a representante máxima da classe farmacêutica prevê mesmo a “concentração do capital agora disperso em direcções técnicas individualizadas”, e perspectiva mesmo a “verticalização económica de cadeias (talvez internacionais) de farmácias”. Irene Silveira acredita que “a breve trecho” as regras introduzidas no sector terão como resultado uma “perda de identidade da farmácia como espaço de saúde”, em detrimento da imagem das farmácias como alvos de investimento financeiro, estimulando a “agressividade comercial e de marketing”, que poderá ser “indutora da venda de medicamentos e produtos de saúde, contrariando o princípio de moderação e adequação do consumo” daqueles produtos, como salvaguarda da Saúde Pública.

Carla Teixeira
Fonte: Ordem dos Farmacêuticos
Obstáculos aos novos estabelecimentos em meio rural
“Governo dificulta abertura de farmácias”


O Sindicato Nacional dos Profissionais de Farmácia e Paramédicos considera que o Governo está a criar obstáculos à abertura de novas farmácias em pequenos meios rurais. Em causa estão os custos elevados inerentes à formalização da candidatura e a obrigatória indicação de dois farmacêuticos, medidas que a estrutura sindical. O sindicato acusa ainda a tutela de ter retardado o fornecimento de informações sobre o novo regime jurídico.

Recordando que só recebeu muitos dos documentos relacionados com a legislação agora em vigor depois de “muita insistência”, o sindicato aponta a existência de uma “contradição evidente, com a promessa ou intenção da melhoria da qualidade e do alargamento da assistência farmacêutica”. Em causa está, segundo adiantou fonte sindical ao jornal «Destak», “a diminuição da capitação relativa à instalação, por concurso, de novas farmácias, enquanto se “cria obstáculos intransponíveis” à sua abertura nos pequenos meios rurais, tendo em conta “não só o valor elevado a que a participação no concurso obriga” (cerca de 10 mil euros), como pela “obrigação da indicação de dois farmacêuticos”.
Asseverando que é “objectivamente impossível” garantir a presença contínua de um farmacêutico numa farmácia obrigada a prestar serviço ininterrupto – 24 horas por dia durante os 365 dias do ano –, a estrutura acusa o Governo de “propiciar” que na ausência daquele profissional o estabelecimento de venda de medicamentos possa ser confiado a “pessoal sem qualquer qualificação técnica, ou outra claramente definida, mantendo a existência de ambiguidades”, quando essa função deveria ser assumida por técnicos de farmácia.
Outra crítica do sindicato incide na comercialização de medicamentos pela internet, tendo em conta que o novo regime jurídico estabelece a necessidade de supervisão das vendas por um “auxiliar legalmente habilitado”, conceito que o sindicato garante não saber a que tipo de profissional diz respeito, endurecendo a posição para dizer que “o que verdadeiramente está em causa é mais uma cedência inconcebível do lobby farmacêutico (ANF e farmacêuticos proprietários de farmácias), que consegue por esta e outras vias uma compensação positiva pela perda da exclusividade na propriedade”.

Carla Teixeira
Fonte: «Destak», Agência Lusa