domingo, 18 de novembro de 2007

Transacção no valor de 164 milhões de dólares para 2008
Pfizer pretende adquirir Coley Pharmaceutical


A multinacional norte-americana Pfizer, a maior empresa do sector farmacêutico a nível mundial, anunciou na passada sexta-feira um acordo para a compra da Coley Pharmaceutical, biofarmacêutica especializada no desenvolvimento de vacinas e medicamentos usados no tratamento de diversos cancros, alergias e asma.

A transacção, avaliada em 164 milhões de dólares – resultantes do pagamento de oito dólares por acção –, deverá ser concluída no início do próximo ano, informou a multinacional em comunicado, em que explicou que o negócio está dependente da aprovação dos órgãos reguladores responsáveis pelo sector, acrescentando que 27 por cento dos accionistas da Coley Pharmaceutical já aceitaram a oferta. Jeffrey B. Kindler, presidente e CEO da Pfizer, afirmou que “esta aquisição é um importante passo na nossa estratégia para a área das vacinas e reflecte o nosso compromisso com a procura de novas e mais efectivas formas de imunização na prevenção e no aperfeiçoamento do tratamento do cancro”.

Carla Teixeira
Fonte: «Diário Económico», InvestNews

REPORTAGEM

Bem tolerada pelo organismo e com poucos efeitos colaterais
Vacina experimental contra a hipertensão


A Cytos Biotechnology, companhia biofarmacêutica com sede na Suíça, apresentou no início deste mês, na reunião anual da Associação Americana do Coração, dados animadores sobre a eficácia de uma vacina experimental contra a hipertensão. Um ensaio clínico de fase II apurou que a CYT006-AngQb, nome provisório do fármaco, apresenta poucos efeitos secundários, sendo bem tolerada pelo organismo.

O coração humano é uma bomba eficiente que, em perfeito funcionamento, regista 60 a 80 batimentos por minuto, impulsionando a movimentação, por todo o corpo, de cinco a seis litros de sangue. A pressão arterial, por sua vez, diz respeito à força com que esse bombeamento é efectuado, e é determinada pelo volume de sangue que sai do coração e pela resistência que ele encontra à circulação pelo organismo, podendo ser modificada por factores como a variação do volume ou da viscosidade do sangue, a frequência cardíaca e a elasticidade dos vasos sanguíneos. Quando a pressão arterial se altera, uma de duas coisas pode acontecer: ou assume valores muito baixos (sendo 120/80mmHg o valor médio apontado pelos especialistas como normal no adulto), e dá-se a hipotensão, ou assume valores demasiado elevados, e ocorre a hipertensão, uma das mais prevalentes doenças dos países desenvolvidos na actualidade.
Contribuindo para aproximadamente metade de todas as doenças cardiovasculares no chamado primeiro mundo, a hipertensão é uma patologia crónica que se associa a um altíssimo número de mortes prematuras à escala global. Em Portugal tem uma prevalência estimada de 42 por cento da população, estimando-se, no entanto, que muitos doentes desconheçam que o são, ao mesmo tempo que 61 por cento dos já diagnosticados não consegue ainda manter a doença controlada. Uma parafernália de medicamentos e muitas idas ao médico, com constantes medições dos valores da pressão arterial, compõem o dia-a-dia de grande parte destes pacientes, como contou ao farmacia.com.pt Arminda Varela, actualmente com 54 anos, hipertensa desde os 13. Há dias saiu da farmácia com “um grito de alarme”: após uns meses de descuido (nem sempre tomou a medicação com a regularidade exigida), tinha a pressão arterial “a disparar”. Quando “o papelinho saiu da máquina, apanhei cá um susto”, contou. Tinha 180/150mmHg.
Uns dias antes tinha notado que andava muito “eléctrica e nervosa”. “Resmungava com toda a gente, pelas mínimas coisas, e as minhas filhas quase não aguentavam falar comigo, porque eu explodia à toa, sem motivo”. Consciente de que não estava bem, foi de imediato à farmácia mais próxima e dali, a conselho do farmacêutico, foi logo ao médico. “Retomei a medicação e uns dias depois já tinha as tensões mais baixas, mas ainda continuam elevadas”, recordou, frisando que terá “necessidade de continuar a cumprir o tratamento, que é para toda a vida”. Arminda sabe que se descuidou, e que esse comportamento não é correcto, mas atesta que “com alguns medicamentos” se sente “muito em baixo e sem forças”, e que por isso terá optado, a dada altura, por não cumprir as ordens do médico. Agora que a medicação lhe foi alterada, acredita poder levar a cabo o tratamento de forma mais fácil, mas garante que “não é fácil viver com a hipertensão”.

Nova esperança
Diante de uma realidade que penaliza a qualidade de vida de milhões de pessoas à escala mundial, o advento de uma vacina que impeça ou minimize a prevalência da hipertensão assume contornos de extrema utilidade, concordou Arminda Varela, ao ser questionada sobre a hipótese de ser vacinada contra uma doença que há tantos anos a atormenta. A CYT006-AngQb, nome provisório de uma imunização em fase de estudo por uma equipa de investigadores do Hospital Universitário do Cantão de Vaud, na Suíça, para a companhia biofarmacêutica Cytos Biotechnology, que acaba de ser apresentada nos Estados Unidos, assume-se como uma nova esperança no combate à hipertensão, podendo vir a ser, num futuro mais ou menos próximo, a primeira vacina para aquela doença.
Volvidos mais de dois anos sobre a apresentação dos resultados do ensaio clínico de fase I, em Fevereiro de 2005, baseados num estudo-piloto que acompanhou 16 pessoas com tensão arterial normal e 72 hipertensos, com resultados animadores, no início deste mês, tendo como palco a reunião anual da Associação Americana do Coração, uma das cientistas responsáveis pelo ensaio clínico de fase II afirmou que “os resultados são promissores”, aprazando “uma nova fase de estudo já para o início de 2008”. Segundo informou Claudine Blaser, poderá estar iminente, tendo em conta este estudo, o desenvolvimento da primeira vacina do género, que “actua sobre a angiotensina II”, a hormona responsável pela subida da pressão arterial, e a mesma hormona sobre a qual actuam alguns medicamentos já disponíveis. Refere a co-autora do estudo que a vacina CYT006-AngQb impede que a angiotensina I se transforme em angiotensina II.
O novo fármaco experimental é feito a partir de partículas em forma de vírus, sem a sua capacidade infecciosa, destinados a gerar uma resposta do organismo contra a hormona hipertensora. Nos 72 doentes hipertensos analisados nesta investigação a tripla inoculação com o medicamento candidato resultou numa baixa significativa da pressão arterial sistólica (a mais elevada) e também da diastólica (a mais baixa). Ao mesmo tempo aferiu-se que a vacina “tem sido bem tolerada e mostrou ser segura”, sem grandes efeitos secundários, apresentando ainda como principal vantagem o facto de, caso venha a ser implementada em termos definitivos, permitir pôr fim aos tratamentos diários actuais, que segundo Claudine Blaser não são cumpridos com eficácia por 10 a 25 por cento dos hipertensos. No entando, disse, “são necessários mais estudos e pelo menos cinco anos até que um medicamento como este tenha a necessária autorização de introdução no mercado”.

Carla Teixeira
Fonte: «Correio da Manhã», «El Mundo», Pfizer, Portal da Saúde, ABC da Saúde, comunicados da Cytos Biotechnology, Sociedade Portuguesa de Hipertensão, entrevista a doente hipertensa